Escrever é tão simples...

Ah... Escrever... Escrever é tão simples como fechar os olhos para dormir. É só se colocar em frente à tela branca do computador, que... puft!... a história aparece por completo. Tudo assim, como num passe de mágica! É o que acham certas pessoas. A visão que alguns têm sobre o texto e quem o escreve, principalmente que o faz para o teatro, é no mínimo turva, para não dizer cega mesmo.

 

É um desdém impressionante! Chega a dar raiva, raiva não, vontade de bater mesmo. Tratam o texto, como... Aliás, muitos nem consideram o texto. Para falar, sinceramente, muitos nem sabem o que estão fazendo no teatro, quanto mais o peso de um texto dentro de um espetáculo. Mas, escrever é tão simples, não é mesmo?

 

Sei que é uma minoria e que estão só de passagem pelo mundo do teatro, pois tem planos televisivos mais urgentes, mas confesso que muitas vezes dá vontade de falar um palavrão. Quando alguém trata o que você demorou dias para escrever, como se fosse nada, o reduzido a uma insignificância de fazer doer, dá vontade de perguntar o que essa pessoa está fazendo no teatro.

 

Tudo isso sem contar a dificuldade de receber os direitos autorais. Mas, se não sabem da importância do texto, como vão saber dos direitos autorais? Quem escreve, vive de brisa, se alimenta das palavras que coloca no papel, não precisa receber pelo seu trabalho. O dinheiro da bilheteria pode ser dividido pelo grupo, mas o dramaturgo não faz parte desse bolo. Dramaturgo não tem fome, não é?

 

Até quem escreve por amor, hobby, ou sei lá o que, precisa de um mínimo de reconhecimento, nem que seja um: “-Que bom o seu texto!”. Só que o que recebem é desdém, desrespeito e desvalorização. Tem gente que não tem noção, brincam de fazer teatro e pensam em fazer do texto o seu brinquedo mais original. Isso tudo, mediante a um: “-Empresta o texto aí pra mim!”

 

Há de se rever os conceitos de como valorizar um texto. É preciso acabar com essa mania de copilar textos para transformá-los em cenas curtas. Se querem apresentar cenas curtas, usem textos curtos. Um texto só tem sentido quando lido e apresentado por completo. Remendar um texto que foi pensado de uma forma é um desserviço para o teatro e não acrescenta nada.

 

Que ao texto, seja dado o seu devido valor, pois, do mesmo modo que não é nada fácil interpretar, deve-se ter a consciência de que escrever um texto é algo muito mais complexo e que demanda bem mais transpiração do que inspiração. Escrever, apenas parece simples, mas não é!

 

Por isso, repensar essa coisa de achar que um texto é uma coisa simplista e quem o escreve não precisa receber por ele, já é um bom começo. Afinal de contas, dramaturgo, também, come, bebe, dorme e precisa ter dinheiro para ir ao teatro.