A arte de ser um fingidor

Muitos passam anos mentindo sobre si mesmo. Outros passam anos tentando ser o que não são e outros tantos passam anos achando que enganam alguém e não convencem nem a si mesmo. O ser humano vive sempre se enganado, mas só o ator sabe a arte de ser um fingidor.

Só o ator sabe sentir a dor que não sente, sabe rir a gargalhada que não quer dar, sabe ser quem não é e dar a impressão de que é aquele que não é. Só o ator sabe chorar sem sofrer de verdade a sua dor e sabe sofrer por algo como se a dor fosse toda sua.

É assim, o ator é acima de tudo um verdadeiro filtro de sentimentos, capaz de emprestar toda a sua emoção para contar as várias facetas de uma mesma história. Só o ator é capaz de mostrar como pode ser possível, um bandido ter suas razões para o que faz e ao mesmo tempo, mostrar que um mocinho nem sempre é só mocinho. O ator é alguém capaz de esquecer de quem se é para dar lugar à alguém que pouco se conhece.

Pena que alguns acham que seja assim tão simples ser um fingidor e se aventuram em fazer aquilo para o qual não estão preparados. Não é porque se é um fingidor, que se finge simplesmente. A arte de fingir vai muito além do fazer de conta. É fingir que sente aquilo que não se sente, mas sentindo. Isso, só o ator, com a experiência que vai adquirindo durante a sua estrada, é capaz.

E quando se vê um espetáculo onde o ator esbanja a arte de ser um fingidor, aí sim a gente se deixa levar pela história. E ri, se emociona, compartilha cada ação e cada reação do que se vê em cena e sai de alma lavada, certos de que somos tudo aquilo que acabamos de ver.

Felizes aqueles atores que dominam a arte de ser um fingidor, que não poupam esforços para nos convencer de algo que a gente sabe que não é verdade, mas sai convencido de que é. Que nos hipnotiza e que nos conquista com o seu talento de ser um grande fingidor.

Ainda bem que o ser humano pode contar com um fingidor para lhe mostrar o quanto se é patético e boçal, o quanto se é ninguém, o quanto se é mortal, o quanto fingimos ser aquilo que não somos e o quanto queremos viver aquilo que não podemos. Ave, atores com o dom da arte de ser um fingidor, reverencio aqui, a cada um de vocês.