Auto-Ajuda para Atores

Seu problema não é que VOCÊ SE QUER pouco, é que VOCÊ QUER SER muito

Os livros de auto-ajuda tem prosperado muito e, sobretudo, auto-ajudado muito a seus autores que ficaram milionários. Nós que sempre queremos estar na vanguarda das correntes e movimentos e, em vista de que os atores do meio estão um pouco desanimados e deprimidos, queremos aportar alguns conselhos e opiniões para levantar a moral da galera.

1) Valori$e-$e – Fazer teatro, dedicar sua vida a ele é um sacerdócio, com a vantagem de que você pode beber, fumar, trocar de mulher ou de homem, em fim: desenvolver sua liberdade pessoal e manifestar suas forças autodestrutivas. Infelizmente, depois de ter gasto o nosso magro salário em entorpecentes, comida japonesa ou na Serra do Cipó, descobrimos que a nossa arte não é devidamente valorizada;

2) Não chore, quanto mais lágrimas derrame, pior – No País do Carnaval mais conhecido do mundo, pentacampeão, no país que está há vários milhares e pontos acima da fome zero, os governantes não criam leis que possibilitem o desenvolvimento artístico. Um artista, gênio da instabilidade, amante das coisas que ainda não existem, não pode trabalhar nessas condições e muitas vezes a sua sensibilidade o faz chorar. Seja forte, não chore: pense que tudo sempre pode piorar;

3) Ouça a sua Família – Estamos obrigados a falar: muitas vezes a família têm razão! Tem vezes que os pais sabem o que dizem. Por exemplo, quando eles estão putos, é o momento de você ouvir e saber tudo o que eles pensam. Se você prestar atenção conseguirá perceber que em algum momento eles perguntaram: “Com que grana você vai viver?”. Essa pergunta, inexoravelmente, será feita de novo por você no futuro frente ao espelho.

4) Não se sinta inferior – Pense que não existe a inferioridade e no caso extremo de que você seja inferior mesmo, pense pelo menos que essa situação pode mudar. A vida é uma loteria: é impossível ganhar se você não compra algum número. Não se pode viver sem uma esperança;

5) Faça uma dieta saudável – Não seja porco. Se alguma vez vai apresentar alguma peça num festival e fica num hotel com café da manhã, cuidado com a crise de abstinência. Não misture tudo, não coloque a comida no prato como se esse fosse o último almoço do mundo. Cá entre nós, sabemos que ator é um ser com fome. Sejamos discretos. Coloque uma folha, um tomate, não parta para o feijão tropeiro e a lingüiça de primeira. Respire e seja moderado.

Se depois desses conselhos ainda está triste e com dúvidas, é normal. Pense que o nosso grande problema é outro. É mentira que ninguém gosta de você; é mentira que você seja um incompreendido; é mentira que as pessoas falam na suas costas; é mentira que os governantes não se preocupam com você. A única verdade é que ninguém nos percebe, que estamos sós e que queremos um abraço infinito para nos afundar para sempre. Então, por favor, lave o rosto, enxugue as lágrimas, bote um colírio e saia para rua com a cabeça erguida e a dignidade do condenado à morte. Sorria para seu carrasco. Lembre que este é um artigo de auto-ajuda então, se não quer fazer isso por você, por favor, faça o por mim.

O Tigre